segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O Príncipe sem coração, explicações e devaneios

Para variar temos aqui outro projecto do mestrado, desta vez da cadeira de serigrafia, uma série de seis ilustrações sobre as peripécias do Príncipe sem coração. A personagem e situações fazem parte de uma história maior, sobre um príncipe que decide que ter coração dá mais chatices que vantagens, logo a a escolha mais lógica é livrar-se dele por decreto real.
Um conto infantil cuja ideia inicial era demonstrar os problemas práticos que poderiam surgir na ausência de um coração, ao invés de focar nos problemas emocionais, apesar de a personagem não ter sido inicialmente criada com a serigrafia em mente, a utilização de manchas fortes e cores planas mais do que justificaram esse processo.

Para que nunca experimentou serigrafia recomendo desde já, nem que seja para terem uma vaga (e dolorosa) noção do trabalho e esforço necessário para a execução de uma impressão decente. Consegue ser um processo desanimador e moroso, mas garanto que quando uma impressão sai bem, todas aquelas horas a respirar diluente e a limpar redes quase que se justificam. Tenho que agradecer particularmente á nossa incansável professora Joana Paradinha, se não fosse pela sua insistência e sentido de humor peculiar, ainda estaria a imprimir peças de um gosto e qualidade questionável, e a reclamar enquanto o fazia.

O Príncipe sem coração 06

O Príncipe sem coração 05

O Príncipe sem coração 04

O Príncipe sem coração 03

O Príncipe sem coração 02

O Príncipe sem coração 01

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O Leão Velho, explicações e devaneios

Ah mais um trabalho para campos de ilustração, se eu tivesse um euro por cada um que entreguei a horas...enfim não seria uma homem muito rico. Desta vez era da nossa responsabilidade ilustrar uma fábula utilizando apenas paper-cuts e recorrendo a noções de perspectiva, iluminação e composição. Escolhi pela sua ironia singular, a fábula do Leão Velho.

"Um Leão, já muito velho e sem forças, repousava no seu covil.

Os outros animais, aproveitando-se da sua fraqueza, resolveram vingar-se dos maus tratos que ele lhes infligira quando era jovem e forte: o cavalo deu-lhe um coice, o lobo deu-lhe dentadas e o boi deu-lhe uma cornada.

O infeliz aguentou, sem um queixume. Foi então que viu um burro a correr na sua direcção, pronto para o agredir também.

- É demais! - exclamou ele. - Aceito morrer, mas ser insultado por ti é morrer duas vezes!

Moral da história:
Receber um castigo de pessoas ilustres é suportável, mas recebê-lo de ignorantes é deprimente."

Coitado do leão passou um mau bocado, mas também passei eu que fiquei com inúmeros golpes de bisturi na mão como doce lembrança que ás vezes é melhor ter a televisão desligada. Piadas á parte, foi uma técnica que nunca tinha explorado até ao momento, fiquei genuinamente impressionado com o resultado, no fim de contas resumiu-se a ter o cuidado de adaptar o estilo de desenho ás linhas e curvas possíveis de executar com o bisturi, e é claro bastantes horas de trabalho.

O Leão Velho pág. 5

O Leão Velho pág. 4



O Leão Velho pág. 3



O Leão Velho pág. 2

O Leão Velho pág. 1

Josefina a Citrina, explicações e devaneios

Este foi um trabalho para a cadeira de campos de ilustração do mestrado. O passo inicial era o de esculpir vegetais em personagens, compor uma historia, fotografar, e posteriormente ilustrar com base nessas fotografias. O meu conto da Josefina insere-se num obra maior de três partes, as outras duas sendo da autoria de Elsa Pedrosa e Lucélia Lima. (assim que tiver os seus blogues tratarei de os publicar, que recomendo desde já) A característica unificadora em todas as histórias são as personagens compostas de vegetais e a presença do temível serial killer (não de cereal mas sim de vegetal...hehe...ok má piada admito).

Esculpir os bonecos em si foi um trabalho penoso, o vampiro Gervásio recusava-se a ficar com os dentes dentro da boca ou em pé, o assassino era feito de partes de espargos que teimavam em cair, e tinham que ser substituídas regularmente, e o sumo de romã que foi utilizado como sangue sujou pelo menos dois intervenientes (desculpa outra vez pela t-shirt Lucélia).

Apesar de todos os desastres e fotos que não foram aproveitadas, foi um trabalho muito divertido, pode ser que volte a apontar os meus planos de domínio global para o reino vegetal no futuro...

Josefina a Citrina pág. 5

Josefina a Citrina pág. 4



O estranho rapidamente para ela se virou, de faces ensanguentadas empunhando os caninos de Gervázio como se de facas se tratassem, silenciosamente na sua direcção caminhou, pobre Josefina tão jovem e tão singela, a ultima coisa que vislumbrou tentava chorar, foram os olhos do seu atacante, negros lagos cheios de inveja e pesar.

Josefina a Citrina pág. 3



Do nada ele surgiu! Qual criatura predatória, Gervázio (o nabo) pouco mais consegui fazer do que abrir a boca em exclamação, era uma figura pálida como se de um fantasma, ou de um rabanete descascado, se tratasse. As suas mãos como que guiadas, aos caninos do seu amante se agarraram e facilmente os arrancaram! Sangue escorreu da sua boca e caindo redondo no chão fazendo apenas um horripilante ruído, meio gemido meio engasgar.

Josefina a Citrina pág. 2


- Um vampiro! (reclamara a mãe) e de nabo para arredondar a afronta! Não poderias ter arranjado um belo ananás licenciado em agricultura!?

Tudo isso era irrelevante pois ela estava feliz, ou estaria se não fosse a estranha impressão de estarem a ser observados por alguém oculto pela noite sem luar, pois todos os citrinos (e particularmente os limões) são dotados de grande intuição.

Josefina a Citrina pág. 1



Certamente que seriam o casal mais elegante a caminhar pelo parque, isto se casais fizessem caminhadas nas noites mais escuras, era um sacrifício que Josefina estava disposta a fazer.

Apresentações e devidas explicações

Provavelmente deveria de começar com alguma citação ou frase memorável para iniciar este novo espaço, infelizmente (de momento) não me ocorre nenhuma digna de essa honra. Mas nada como iniciar o espaço com alguns devaneios, passando rapidamente aos bonecos e desenhos. O que será (espero eu) o motivo que traz a grande maioria de vocês a este espaço.

Penso que irei começar pelo facto que sempre detestei a palavra "blogue". Quando confrontado pelo primeira vez com esse termo, a primeira coisa que me veio á cabeça foi de algo amórfico e gotejante (e até um pouco lovecraftiano), vendo a minha expressão de terror, depressa os meus amigos se deram ao trabalho de me explicar afinal o que eram esses blogues e as estranhas criaturas que lá habitam e diambulam.

Devo de admitir no entanto, que novamente, os meus primeiros pensamentos foram de terror. Sabendo á partida, que de toda a internet apenas possivelmente 10% são conteúdos de algum intresse ao desenvolvimento da espécie humana, a ideia de que alguém, num acesso de insanidade, havia providenciado as ferramentas para a disseminação livre das ideias e conteúdos, de um mar tão profundo e tumultuoso como a internet, foi o suficiente para me deixar encolhido a um canto da sala em posição fetal.

Apenas recentemente foram capazes de aplacar os meus temores. Foi apenas através de uma sistemática e violenta demonstração das vantagens apresentadas pela denominada "blogoesfera" que foram capazes de me acordar desse estupor. Foi uma batalha dura, mas a verdade é que a minha oponente apresentou demasiados argumentos válidos para os poder deflectir a todos com o meu sarcasmo e relativismo.

E assim aqui me encontro. Espero sinceramente que disfrutem deste espaço e dos trabalhos aqui apresentados, que comentem, critiquem e até se necessário que insultem, desde que de acordo com as regras de cavalheirismo.

Cordiais comprimentos

Sérgio Miguel Sequeira